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A santidade fecunda e o pecado estéril


Todo pecado termina no vazio e na morte. Não há nada além dele e isso é um fato. Enquanto somos tentados, uma promessa nos é feita: que, consentindo, obteremos um bem e ficaremos saciados. Contudo, quando os atrativos acabam, a realidade da situação se desnuda ante nossos olhos e constatamos que, no lugar da promessa, nada existe senão o solitário e triste escuro. Não há bem, nem há satisfação. Alguns demoram para notar. Outros já percebem na primeira queda. Contudo, há aquelas almas que são enganadas, descobrem isso, sofrem, aprendem e, contra toda razão, tornam a acreditar na mesma promessa do pecado.

Agem, assim, tal como as amantes que sofrem com os cafajestes. Da primeira vez, abraçam iludidas as juras de amor que, dali a pouco tempo, mostram-se falsas. Sofrem muito, mas dão nova chance aos canalhas quando ouvem suas desculpas infundadas. Não demora e, de novo, a decepção. De novo, novamente e outra vez. Chega um tempo em que entendem: aquilo não é amor. Mas, após tanto tempo e tão grande investimento, todo o entendimento fica nublado. Perante as novas investidas, a memória chega até a falhar. É como se não lembrasse da dor que se segue da frustração. Viciadas, chegam a insistir, porém, sem mais se apegar a alguma esperança de que ele vá mudar. Persiste-se como o cão cavando a terra, em busca dum osso que não está lá. Voltam ao mesmo lugar um incontável número de vezes, rodeiam e a pergunta que lhes resta é: "Por que não encontro nada? É realmente possível que não exista nada aqui, mesmo depois de tudo?".

A resposta para nosso caso é: não há nada. É verdade. O pecado é estéril. Finge-se de fértil, mas não é. Por definição e por efeitos. Quando ao primeiro, é preciso dizer que o pecado é descumprir a Palavra de Deus e a palavra divina, como diz a Sagrada Escritura, é a vida. "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" - diz o Verbo encarnado. Ora, o que é contrário à vida leva à morte e é incapaz, por si, de gerar vida. Assim o pecado é, por definição, esterilidade. Quanto ao segundo, é fato que, depois de pecar, notamos cedo ou tarde que tudo de que abrimos mão resulta em nada. Afinal, o que frutifica da pornografia? Ou da masturbação? Ou dos atos sexuais fora do casamento? O que é gerado dos atos homossexuais? Essa indagação não vale apenas para os pecados contra a castidade, mas aplica-se a todo pecado: idolatria, profanação, blasfêmia, mentira, roubo, traição, assassinato, et cetera. O que é semeado por essas ações? Isso cresce? Dá frutos? A verdade é que o pecado é uma árvore seca. Finge-se de semente e nos convida a depositar nele nossos esforços, riquezas, lágrimas, sorrisos, tudo. Mas, não cresce como as árvores boas. Não dá flores, nem frutos, nem sementes. Possui apenas sua falta de vida e, por isso, nada possui e menos do que isso oferece a quem o cultiva. 

Aprendemos que o homem não é feliz com a esterilidade. Quando o agricultor não vê crescer o que cultivou com seu sacrifício, entristece-se profundamente. O mesmo acontece quando o herói não vê sobreviver a vítima que resgatou arriscando a própria vida, ou quando o médico não vê a cura dos seus pacientes após dedicar-lhes seu tempo e assistência, ou quando o cientista não descobre as causas dum evento depois de investigá-lo com sua inteligência, ou quando o pai e a mãe não veem seus filhos crescidos, felizes e bem educados, após tamanha renúncia, luta e trabalho. Todos se entristecem porque lançaram as sementes, cuidaram e deram parte ou o máximo de si, mas, no fim de tudo, nada cresceu, nem multiplicou-se, nem deu fruto. Mais precisamente, o homem até suporta alguma infertilidade material. Consegue viver sem que se enriqueça, ou tenha filhos, boa saúde e vários momentos agradáveis. Todavia, não pode aguentar a infertilidade espiritual. Esta lhe causa uma dor e uma tristeza muito mais profundas e intensas. Quando suas ações, pensamento e palavras não geram vida, o ser humano afunda-se no abismo e de lá grita:

Senhor, o que eu fiz da minha vida?
Senhor, nada do que fiz vingou!

O pecado é a causa da infertilidade espiritual e, por isso, jamais traz felicidade ao ser humano. Porém, é preciso dizer que o pecado tem uma falsa fecundidade, que consiste em espalhar os efeitos da sua esterilidade, corrompendo e destruindo a vida em outros, propagando-se como uma doença contagiosa, alastrando-se e levando a morte a tudo. O estulto que olha essa expansão julga que vê vitalidade, assim como o espectador do fogo, que o observa se espalhar velozmente, fica fascinado em contemplar a ardência do fogo; contudo, ignora que as labaredas deixam para trás devastação e cinzas. Desse modo, muitos olham a efervescência cultural, as manifestações políticas, a mudança dos valores, como indícios de vida. Esquecem-se apenas de notar que, se algo cresce, é a insatisfação das pessoas, a violência, a corrupção, a angústia de não encontrar alguém em quem confiar, os suicídios, os abortos, a eutanásia. Como entendeu o Beato João Paulo II, do pecado nos veio uma cultura de morte. 

Por outro lado, Deus é a vida. Antes de qualquer movimento nosso, Ele começa por doar-se todo a nós. Criou o o mundo e o deu ao homem, com seus animais e seus frutos. Enviou Seu Filho Único. Sacrificou-o para pagar as dívidas humanas contraídas pelo pecado. Deu-lhes Sua Mãe, Maria, e Sua Esposa, a Igreja. Oferta-se por inteiro todos os dias em cada partícula do pão e do vinho consagrados. Espera cada um pacientemente, mesmo que, por nossas incontáveis ofensas, pudesse muito justamente nos destruir ou nos lançar no inferno. É simples: o Deus Vivo nos ama, sem limites. Amando-nos, enche-nos com Sua vida.


Quando correspondemos esse amor, doando-nos inteiramente a Ele, ganhamos a vida ao invés de perdê-la. Lançamos nele tudo o que temos  e, de volta, colhemos o cêntuplo. Aqui, nem se fala das coisas materiais. Fala-se das virtudes, dos atos de sacrifício pelo bem e salvação dos outros, da justiça, do perdão, de famílias e de pessoas restauradas, daqueles bens elevados que a traça não consome e os ladrões não roubam. Os frutos e a vida que advêm de tudo isso são incalculáveis, pois, por trás deles, está Aquele que é a verdadeira fecundidade, cujo Espírito Santo fez uma virgem conceber o Salvador, cujo sangue vertido pelo Filho fez renascer a humanidade morta pelo pecado; em suma, está o Deus da vida. Por isso, felizes apenas sendo santos. Fora da santidade, não há fecundidade espiritual e, por isso, não há felicidade.

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