No dia 12 de Junho deste ano a Igreja comemora a Solenidade de Pentecostes. Para melhor compreendermos esta celebração, faz-se necessário entendermos a sua origem e seu sentido. Pentecostes, em grego, significa qüinquagésimo, o 50º dia. A Festa de Pentecostes é de origem judaica. Ela corresponde à festa das Semanas, Shavuot (semanas em hebraico). Era celebrada sete semanas depois da Páscoa (7 x 7 = 49). Shavuot é uma das festas de peregrinação, momento onde o povo judeu ia ao Templo ofertar a Deus as Primícias da Colheita, cumprindo o preceito divino: “Contareis cinquenta dias até até o dia seguinte ao sétimo sábado e oferecereis então a Javé uma nova oblação” (Lv,23,15-16). Quando o templo de Jerusalém foi destruído, a festa de pentecostes perdeu seu caráter agrícola e passou a acentuar seu caráter histórico. Celebravam então neste dia o “dom da Torá”, dia em que Deus concluiu com seu povo por meio de Moisés a Aliança no Sinai, dando a este povo a Sua Lei, a Sua Palavra. Para o judeu, há uma íntima relação entre a Páscoa (Pessach) e Pentecostes (Shavuot), pois expressam uma lógica teológica: o reconhecimento de Deus como benfeitor da terra e como Senhor da história.
Na plenitude dos tempos, o Pai nos envia o Seu Filho único, para Nele, realizar a sua obra redentora de reconciliar consigo toda humanidade. Jesus em sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, no seu mistério pascal, nos introduz no reino da graça. O Cristo sabia que chegaria a hora em que Ele passaria deste mundo para o Pai, após cumprir a sua missão. Contudo, disse o Senhor: “rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade”(Jo 14,16-17). Vemos aqui nestes versículos a promessa de Jesus, de enviar-nos o seu Espírito. “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo o que vos disse”(Jo 14,26). O Espírito prometido por Jesus tem a missão de nos revelar de forma profunda quem é Jesus, qual a sua obra e sua missão. É pelo Espírito que temos acesso a essa graça.
Celebrar Pentecostes para nós cristãos é celebrar o cumprimento da promessa de envio do Espírito, aquele momento em que, “tendo completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso, que encheu toda casa onde se encontravam. Apareceu-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo (At 2, 1-4). A missão salvífica de Jesus sintetiza-se e cumpre-se na comunicação do Espírito Santo aos homens, para os reconduzir ao Pai. Esta é a obra da terceira pessoa da Santíssima Trindade: tornar presente o Senhor Ressuscitado, e com Ele, o Pai. O Espírito do Filho nos dá a graça de termos os mesmos sentimentos de Cristo, e de amarmos como Ele amou, a ponto de oferecer a vida pelos irmãos. Ao comunicar-nos o seu Espírito, Cristo entra na nossa vida, para que cada um de nós possa dizer como Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Assim, toda a vida se torna uma Páscoa contínua, uma incessante passagem da morte para a vida, até à Páscoa derradeira, quando passaremos também nós, com Jesus e como Jesus, “deste mundo para o Pai” (Jo 13,1).Portanto caríssimos irmãos, peçamos com toda Igreja neste tempo propício, um novo derramamento do Espírito em nossos corações, tornando atual em nossas vidas a graça de nosso batismo sacramental.
Por Padre João Evangelista, sjs
Prior Local e Reitor do Seminário Nossa Senhora de Pentecostes da Fraternidade Jesus Salvador.
Sacerdote Salvista do IMSJS
Formado em Filosofia e Teologia.
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