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Castidade: um chamado de Deus a todos

O Apostolado Coragem transmite aos  que sentem atrações pelo mesmo sexo a mensagem que, na verdade, é transmitida pela Santa Igreja a todos os filhos e filhas de Deus, de todos os lugares, culturas e tempos, casados ou solteiros, jovens ou adultos : buscar a pureza de corpo e de coração pela vivência da castidade cristã.



O que dizem


Em certas ocasiões, ouvimos algumas pessoas falarem sobre castidade e, quase imediatamente, pensamos que se trata de simples abstenção de sexo. Pensamos também que a castidade é apenas uma palavra que  oculta uma mensagem negativa sobre o sexo e que serve para reprimir os desejos sexuais e isso porque a Igreja acha o sexo uma coisa ruim e pecaminosa. Não é raro também acharmos que o pecado de Adão e Eva é o de ter feito sexo. "É a história da maçã!" pensamos. Bem, essas ideias estão equivocadas, pois nenhuma delas faz parte da catequese da Santa Igreja a respeito da castidade.


Eclo 26,20: "Não há peso para medir 
o valor de uma alma casta" 

O que é


A castidade é uma virtude, o que significa que ela é uma disposição a agir de certo modo, segundo certa regra. Que modo e que regra são esses? Neste caso, a virtude da castidade pertence ao domínio da sexualidade e a regra é dada pelo próprio Deus, por meio de sua Palavra *(1). A ação própria da castidade é definida pela Santa Igreja por meio de dois termos: "integridade da pessoa" e "integralidade da doação". No Catecismo a castidade é definida do seguinte modo:
A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é integrada na relação pessoa a pessoa, na doação mútua integral e temporalmente ilimitada do homem e da mulher. A castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação. (Catecismo da Igreja Católica, parte III, seção 2, capítulo 2, artigo 6, sobre o Sexto Mandamento [2337])
As palavras "integridade" e "integralidade" significam, apesar da diferença de nuances, "o que é próprio de ser inteiro, integral". Chamamos de integral, por exemplo, o pão que é preparado com uma farinha que não passou por refinamento. Nada é tirado do pão, nem da farinha de que foi feito. Assim, quando se diz "integralidade da pessoa" e "integralidade da doação", quer-se dizer que a pessoa inteira, e não só parte dela, está envolvida na doação de si à outra pessoa - doação essa que é tão profunda, que não coloca condição nem quanto à duração. No fundo, a Igreja quer dizer que a sexualidade torna-se algo digno de ser chamado "humano", quando ela envolve tanto a "carne" (o desejo sexual pelo outro) como o "espírito" (a disposição em doar-se a si mesmo pelo bem e salvação do outro). 


Nossa condição fragilizada

Mas isso que foi dito acima não é tão fácil, nem tão óbvio quanto parece. Isso porque podemos constatar, refletindo cuidadosamente sobre nossa condição, que há diferença entre as intenções de nossa carne e as intensões de nosso espírito. Por um lado, queremos satisfazer nosso desejo por prazer (sem nem dar atenção ao bem que o outro precisa), mas, por outro lado, queremos viver o amor segundo o que nos ensinou Cristo: um amor que se doa incondicionalmente pelo bem e salvação do outro. Essa diferença de intenções, muito discutida por São Paulo em suas cartas (como em Gálatas V, 16-25) *(2), implica em uma cisão na integralidade da pessoa e, consequentemente, na doação de que ela é capaz.

Tendo essa dificuldade em mente, Deus, por sua bondade e livre vontade, concede ao homem a força, que ele quase não tem, de integrar essas intenções. Essa integração, como nos ensina São Paulo, se dá pela submissão das intenções da carne às intenções do espírito - mais precisamente, a sobordinação da nossa vontade à vontade de Deus. Isso significa que o desejo por prazer só pode ser realizado de forma plena e santa dentro de uma relação de doação integral (de corpo e espírito) e que vise o bem e salvação daqueles que estão envolvidos na relação.


Para muitos de nós, num tempo em que é amplamente advogado "Mas Deus quer a minha felicidade...", é difícil compreender como a abstenção do sexo fora do casamente pode ser encaixada na ideia de felicidade. Essa dificuldade se deve a querermos entender felicidade como a satisfação de todos os nossos desejos. Mas, formulada dessa maneira, a felicidade corre o risco de ser reduzida a algo egoísta e, por isso, sem abertura a Deus e ao próximo.   

São José é um exemplo de castidade
para todos os homens. Nas imagens,
ele aparece sempre segurando lírios,
que são o símbolo da pureza.
Porque Deus é o nosso criador e é aquele que sonda os corações, Ele é o único que tem toda a autoridade para criar ou não, juntar ou separar, fazer nascer ou morrer, julgar ou perdoar, e é Ele, nosso criador, quem mais sabe a nosso respeito para dizer o que é a felicidade humana. Ora, Deus disse ao ser humano "Frutificai !" (Gn I,28) e, ainda, "Por isso o homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir a sua mulher, e já não são mais que uma só carne" (Gn II,24). Sendo isso assim, todo ser humano é chamado a uma vida de união que seja fecunda em vida e em virtudes. No matrimônio, homem e mulher guardam sua sexualidade como bem a ser doado exclusivamente ao conjuge. Ainda quando solteiros, fazem isso abstendo-se de sexo. Mas, uma vez que eles se unem (sob a benção de Deus no sacramento do matrimônio), eles se entregam em sacrifício um pelo outro, e desse amor frutificam, de acordo com a providência de Deus, novas vidas (os filhos) e, principalmente, as virtudes vividas em família. Todavia, alguns homens abrem mão do bem que é o matrimônio por um bem maior que é o celibato - fazem-se "eunucos", como diz Jesus no Evangelho segundo São Mateus, XIX,12. No celibato, sacrifica-se a si mesmo pelo Reino de Deus, pelo bem e salvação dos filhos e filhas de Deus do mundo inteiro. Arriscaríamos dizer que a fecundidade  do  celibato são os frutos de novas vidas em Cristo, isto é, almas convertidas e perseverantes. Além disso, a alma dedicada exclusivamente ao Reino faz-se como um jardim nas mãos de Deus, permitindo ser semeada e cultivada por Ele. No fundo, essa alma deseja que em si mesma floreça inumeráveis  virtudes e, assim, que ela seja um belíssimo jardim para o deleite de Deus.

Santa Maria, a Virgem Puríssima 
Além disso, segundo o ensinamento da Igreja Católica, a castidade é um dom de Deus, e, desse modo, ela é um presente que a livre vontade de Deus concede à alma humana que deseja imitar a pureza de Cristo. Desse modo, a castidade requer três coisas: a primeira, que o ser humano dê adesão à regra dada por Deus esforçando-se por viver segundo ela; segunda, que busque viver a castidade sem cair na vaidade de se achar superior aos outros, e sem que julgue poder alcançar essa virtude por suas próprias forças - é preciso que reconheça sempre sua fragilidade e que peça constantemente o auxílio de Deus; e terceira, que Deus conceda sua graça (ou seja, preste ajuda) à alma que deseja viver a castidade. Da parte de Deus, é certa a Sua ajuda, como Ele próprio diz: "Pedi e recebereis" (Mt VII, 7). Por isso, para cada um alcançar a virtude da castidade, basta querê-lo aceitando o chamado de Deus. É preciso buscar viver essa virtude, cientes de que, sozinhos, não conseguiremos, e que, por isso, contamos com a graça de Deus, recebida por meio da oração e dos sacramentos.



A castidade e seus benefícios para os que têm atração pelo mesmo sexo


Diante dessas coisas, pode-se considerar como a vivência da castidade traz vários e vários benefícios para aquele que tem atração pelo mesmo sexo. Focando-se em unir as nossas intenções sexuais, submetendo as da carne às do espírito, a castidade direciona a nossa sexualidade a encontrar sua plenitude no amor cristão, um amor que é capaz de sacrificar-se pelo bem e salvação dos outros. 


Por isso, a castidade permite, primeiramente, que nós não sejamos escravizados pelos nossos desejos sexuais - ou seja, a castidade permite que resistamos à satisfação imediata e irrefletida dos nossos desejos sexuais, capacitando-nos a, diante das tentações, recusá-las. As tentações buscam nos seduzir com promessas falsas de realização pessoal pela satisfação de nossos desejos sexuais pelo mesmo sexo. Dizem: "Você será feliz se você realizar suas fantasias e atender seus desejos sexuais pelo mesmo sexo". Dizendo isso, nos influenciam a nos submeter a esses desejos, tornando-nos escravos deles, como também nos influenciam a negligenciar e, em casos graves, até mesmo recusar a vontade de Deus. Nesses momentos, cabe refletir se a satisfação de um desejo da carne vale a perda da satisfação de nosso espírito em estar em comunhão com Deus.   


Em segundo lugar, a castidade permite-nos refletir e, assim conhecer, o grande valor da sexualidade humana, como também o belíssimo plano que Deus tem para ela. A castidade permite-nos ver que a sexualidade humana não é apenas o desejo por sexo, mas que ela envolve o modo como agimos, pensamos e sentimos ( como homens, se por Deus feitos homens; ou como mulheres, se por Deus feitas mulheres). Além disso, a castidade permite entender que sexualidade faz parte de um plano divino de vida unitiva, em que, no matrimônio, homem e mulher se unem e frutificam em filhos (segundo a providência de Deus) e em virtudes, e em que, no celibato, homem e mulher unem-se a Deus e frutificam em filhos espirituais e em virtudes.


A castidade também nos permite ver os outros como filhos e filhas de Deus e, não, como meros objetos de prazer. Por isso, ela nos dá abertura maior às relações mais maduras e às verdadeiras amizades. A castidade permite-nos ainda ter uma visão equilibrada e bonita de todas as relações humanas .


Mas a castidade também traz benefícios na relação de nós conosco mesmos. Ganhamos mais confiança em nós mesmos, cultivamos paz interior e, principalmente, aprendemos a valorizar verdadeiramente nós mesmos. Isso porque a castidade nos ajuda a cumprir nossos bons propósitos, submete as intenções da carne às intenções do espírito (livrando-nos do conflito interior entre elas), e nos faz olhar para nosso corpo como criação de Deus. Pela vivência da castidade, acolhemos com grande alegria o ensinamento das Sagradas Escrituras de que somos feitos à imagem e à semelhança de Deus (Gn I, 26) e de que somos templos do Espírito Santo (I Cor VI, 19). Já não nos consideramos mais simples corpos físicos submetidos à força imperiosa dos desejos da carne, mas nos consideremos pessoas (por isso, dotadas também de espírito),  criados livres por Deus para que, por nossa escolha, sejamos gloriosos templos de adoração ao Deus Vivo.

Segundo nosso empenho e segundo a providência de Deus, a castidade pode nos ajudar a superar nossa condição por completo. Mas, em caso contrário, não há razão para desespero. Isso porque a castidade nos beneficia com a alegria da comunhão com Deus, pois estamos fazendo a vontade Dele.  Como diz o Apostolado Coragem, no artigo Crescimento espiritual e emocional: nove verdades espirituais, "Seguir fielmente Cristo e viver em união com Sua Igreja - mesmo em meio às tentações – nos trazem uma paz que ultrapassa qualquer entendimento. Esta paz de viver na verdadeira união com Cristo é o maior dom que podemos receber".

                                                                      *          *          *


Notas 

* (1) As Sagradas Escrituras oferecem muitas passagens que promovem e exaltam a castidade. Como, por exemplo: Louvores à castidade: Eclo XXVI,20: "Não há peso para medir o valor de uma alma casta"; Jdt XV,10s: "Quando ela lhes veio ao encontro, abençoaram-na todos a uma só voz, dizendo: Tu és a glória de Jerusalém; Tu és a alegria de Israel, tu és a honra de nosso povo. Deste prova de alma viril e coração valente. Amaste a castidade, e não quiseste, depois da morte do teu marido, conhecer outro homem; então o Senhor te fortaleceu e por isso serás eternamente bendita"; Sab IV,1s: "Mais vale uma vida sem filhos, mas rica de virtudes: sua memória será imortal, porque será conhecida de Deus e dos homens. Quando está presente, imitam-na; quando passada, desejam-na; ela leva na glória uma coroa eterna, por ter triunfado sem mancha nos combates"Castidade virginal: I Cor VII, 7-9. (Estas referências são encontradas na edição e tradução Ave Maria).

*(2) Gálatas V,16-25 : "Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito."

Fonte: by Juventude Courage Brasil

Sugestão de leitura:

Teologia as virtudes ascéticas: a castidade, por Izabel Ribeiro Filippi. Disponível em: http://www.sociedadecatolica.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=190.

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