CIDADE DO VATICANO, domingo, 27 de março de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos as palavras que Bento XVI pronunciou hoje, antes de rezar o Ângelus com milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano.
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Queridos irmãos e irmãs:
O terceiro domingo da Quaresma é caracterizado pelo famoso diálogo entre Jesus e a mulher samaritana, narrado pelo evangelista João. A mulher ia todo dia tirar água de um poço antigo, que remonta ao patriarca Jacó, e nesse dia ela encontrou Jesus, sentado, "cansado do caminho" (João 4, 6). Santo Agostinho comenta: "Há uma razão para o cansaço de Jesus (...). A força de Cristo te criou; a fraqueza de Cristo te regenerou (...). Com sua força nos criou, com sua fraqueza veio nos buscar" (‘In Ioannis Evangelium', 15, 2). O cansaço de Jesus, sinal da sua verdadeira humanidade, pode ser visto como um prelúdio à sua Paixão, com a qual Ele levou a cumprimento a obra da nossa redenção. Em particular, no encontro com a samaritana, junto ao poço, surge o tema da "sede" de Cristo, que culmina com o grito na cruz: "Tenho sede" (Jo 19, 28). Certamente, esta sede, como o cansaço, tem um fundamento físico. Mas Jesus, continua dizendo Agostinho, "tinha sede da fé daquela mulher" (‘In Ioannis Evangelium', 15, 11), assim como da fé de todos nós. Deus Pai o enviou para saciar a nossa sede de vida eterna, dando-nos o seu amor, mas, para oferecer-nos este dom, Jesus pede a nossa fé. A onipotência do Amor respeita sempre a liberdade do homem; toca o seu coração e espera pacientemente pela sua resposta.
No encontro com a samaritana, destaca-se, em primeiro lugar, o símbolo da água, que faz referência clara ao sacramento do Batismo, fonte de vida nova para a fé na Graça de Deus. Este Evangelho, de fato, como recordei na catequese da Quarta-Feira de Cinzas, faz parte do antigo caminho de preparação dos catecúmenos para a iniciação cristã, que tinha lugar na grande Vigília da noite da Páscoa. "Quem beber da água que eu lhe darei - diz Jesus -, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna" (João 4,14). Esta água representa o Espírito Santo, o "dom" por excelência que Jesus veio trazer da parte Deus Pai. Quem renasce na água e no Espírito Santo, ou seja, no Batismo, entra em uma relação real com Deus, uma relação filial, e pode adorá-lo "em espírito e em verdade" (Jo 4, 23.24), como continua revelando Jesus à mulher samaritana. Graças ao encontro com Jesus Cristo e ao dom do Espírito Santo, a fé do homem chega ao seu cumprimento, como resposta à plenitude da revelação de Deus.
Cada um de nós pode colocar-se no lugar da mulher samaritana: Jesus espera por nós, especialmente neste tempo quaresmal, para falar ao nosso coração, ao meu coração. Detenhamo-nos, em um momento em silêncio, em nosso quarto, em uma igreja ou em outro lugar retirado. Escutemos sua voz, que nos diz: "Se tu conhecesses o dom de Deus...". Que a Virgem Maria nos ajude a não perder esta oportunidade, que qual depende a nossa autêntica felicidade.
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