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A Justa Estima do Outro


"Amarás o teu próximo como a ti mesmo"

Nós não podemos dizer que amamos a Deus se não amamos os nossos irmãos. Deus nos criou para amar a Ele e aos nossos irmãos por amor a Ele, por isto não basta amar a Deus e amar o homem de forma separada e de uma maneira qualquer.

Nós amamos por que Deus nos amou primeiro e Ele nos dá, como ponto de referência e parâmetro do amor que devemos ao irmão, o amor que temos por nós mesmos.

Uma coisa é certa: PARA AMAR OS OUTROS É PRECISO AMAR ANTES A SI MESMO. Precisamos aprender a nos amar, a termos a justa estima de nós mesmos, a verdadeira imagem, a auto-imagem correta e normal, isto é, saber que a nossa imagem se acha fundamentalmente dotada de elementos positivos, com contornos limitantes que dificultam o agir, mas não constituem a essência do nosso ser. O centro do ser é positivo, mas no seu todo o ser é limitado. Esta é a condição humana. Existem em todo homem e em toda mulher virtudes e defeitos, riquezas notáveis e impulsos incoerentes com a estrutura pessoal, mas que são parte dela. Quem se desvaloriza ou então quem acredita ser mais do que os outros, dificilmente é um bom amigo de si mesmo. Cada qual, de fato, tem a própria medida. Não tem sentido aspirar a coisas muito grandes, como também é um absurdo julgar-se um miserável.

É sábio quem procura a própria medida, porque, na verdade, é aquela que mais lhe assenta, isto é, se identificar a nível ontológico. Somente neste nível podemos perceber a positividade radicadaem nossa natureza de homens e de criaturas de Deus, chamados a ser conformes à imagem de seu Filho.

A autêntica experiência de Deus nos leva ao amor de nós mesmos. Quanto mais conhecemos a Deus, mais descobrimos que ele nos ama. Quanto mais nos aproximamos da fonte do amor, mais nos tornamos sempre mais dignos de amor.

O AMOR AO PRÓXIMO:

Chegados a este ponto, é possível amar o próximo. Somente uma pessoa em paz consigo mesma pode amar também o irmão. E o amará precisamente como ama a si mesma. Terá um amor que não está fundamentado nas qualidades e defeitos, mas que vê o valor radicado em seu próprio ser, isto é, não basta não pensar bem, não se trata de fechar os olhos sob aspectos negativos dos outros, nem simples gesto de cortesia. O amor verdadeiro leva a uma percepção profunda do outro, a um olhar agudo e límpido para descobrir o valor interior do outro, a um abrir-se a verdade do outro, quer dizer, TODO SER HUMANO É DIGNO DE SER AMADO, INDEPENDENTEMENTE DE SUA CONDUTA OU DE SEUS MERECIMENTOS E QUALIDADES. O amor aos nossos irmãos deve estar ligado aos valores fundamentais da sua existência e como tal é incancelável, apesar da sua aparente indignidade.

A estima sincera do outro é o primeiro ato de amor, mas eficaz, significativo e verdadeiro, pois um ato de caridade sem a estima sincera do outro, é apenas beneficência, que pode provocar humilhação ou engano, e nós não somos chamados a sermos apenas beneficentes, mas bondosos e amorosos com os nossos irmãos.

É sinal de estima sincera e de amor verdadeiro estimular o outro para o seu bem, que é estimular o ou outro para o centro da vontade de Deus. Descobrimos então a relação direta e indireta entre a imagem que temos do outro e seu crescimento, porque muitas vezes assumimos conscientemente, ou não, um comportamento que induz sutilmente o outro a agir de acordo com a imagem que tínhamos feito dele: quanto mais formos rígidos nessa imagem mais estimularemos o comportamento correspondente. Muitas vezes estimulamos o outro a ser exatamente aquilo que, depois, contestamos e condenamos (naturalmente sem má intenção).

Precisamos entender que até mesmo a simples maneira de ver o outro tem influência sobre ele e sobre a imagem que ele tem de si, como os julgamentos, mesmo os que não manifestamos, e o tipo de relacionamento que estabelecemos com ele.

A caridade verdadeira nasce do coração e do modo de ver o outro na sua verdade, no seu valor como pessoa, como ser humano. É ingênuo pensar que podemos ser caridosos simplesmente porque não manifestamos nossos julgamentos negativos, iludindo-nos de poder cobrir tudo com o amor. É importante sabermos separar a fraqueza do irmão e o seu valor como pessoa para assumirmos a responsabilidade de que temos por ele e pelo seu crescimento. Portanto com as suas quedas eu sofro, com suas virtudes fico feliz, com o seu sofrimento procuro ajudá-lo. Não é possível sermos santos e agradar a Deus, sem tomar conhecimento de quem está ao nosso lado. Muitas vezes ignoramos "onde estava" nosso irmão, como Caim, que não quis se sentir responsável pelo irmão (Gen 4, 9).

A experiência de Deus que não passa pelo irmão é apenas ilusão, e da ilusão não pode vir amor verdadeiro e sincero.

Quem estima sinceramente seu irmão se sente responsável por ele, pela sua salvação, fará de tudo para estimulá-lo, dia-a-dia, para o bem, para Deus. Mesmo que o irmão se desvie do verdadeiro bem com o seu comportamento, não deixará de descobrir e crer na sua capacidade positiva de melhorar, porque ele é muito melhor do que parece e poderá ser fiel àquele projeto que Deus tem para ele. Essa confiança no outro é uma força estimuladora, é maior do que o pecado e gera:

- A força de vencer o mal porque é capaz de redescobrir o bem ou de salvar a intenção, de dar novamente esperança ou de convidar o outro de novo a caminhar para Deus, nem que seja juntos quando o outro não está muito interessado.

- Pode mudar o irmão, ainda que a longo prazo, com muita paciência e discreção, sem paternalismo, mas com desejo sincero de levá-lo a crescer na amizade com Deus.
- Desta forma torna-se para o irmão um canal da graça de Deus, pois sua Palavra e vida transmitem-lhe, direta ou indiretamente, mas sempre com entusiasmo e convicção, a mesma mensagem da busca comum de Deus.

É um amor que se caracteriza pela preocupação pela existência do outro. Realiza-se no dar sem expectativa de retribuição, em viver sem esforço o dom daquilo que é necessário à pessoa amada.
A sexualidade é transformada em nível mais alto, em sentimento oblativo. O amor em tal contexto supera dia após dia suas limitações e tende a expandir-se até o nível da região profunda do ser, indo aí desfrutar de suas riquezas.
Quando duas pessoas vivem neste clima espiritual, o encontro significa comunhão verdadeira porque é uma comunhão a nível do ser. Existe tamanha reciprocidade que permite alcançar o nível da unidade, da comunicação e da gratuidade. A comunhão é tão forte que se chega a desejar dar a vida pelo outro, a ponte de não hesitar em derramar o próprio sangue, se necessário. É um amor onde quase não há lutas, necessidades, expectativas. Tem como recompensa única a alegria da própria pessoa amada. É este amor que vê no outro um valor enorme, e ao mesmo tempo relativo ao amor que dar a Deus. É um amor gratuito, feito de presença, de proximidade, atenção e serviço (aquilo que é meu é teu). Este amor supera o instinto e o sensível. "É osso dos meus ossos, e carne da minha carne" (Gen 2, 23).

O QUE É A VERDADEIRA AMIZADE:
O verdadeiro amigo não adula e nem rejeita o outro, mas o estimula a amar como ele ama. Isto é que é a sua felicidade, amá-lo como a si mesmo.
Não é um tipo de piedosa associação de ajuda mútua que procura eliminar a solidão através de gratificações recíprocas, mas que na prática acaba por frear a caminhada de experiência de Deus e de maturidade humana.
Nossos relacionamentos não devem ser de apenas bons vizinhos, muito superficiais para serem fonte de estímulo recíproco na busca de Deus.
Não deve existir entre nós ciúmes, competições, dominações, pois não somos propriedade dos outros e nem os outros são propriedades nossas. Não podemos querer que os outros sejam conforme nós imaginamos ou desejamos, antes devemos amá-lo a partir daquilo que nos incomoda nele. Não amamos para transformar ninguém e sim para levá-los a experiência com Deus, para levá-los ao amor de Deus, para levá-los a verdade de Deus e isto não se realiza pela força das nossas palavras, nem pelas nossas criticas. Não podemos levar os nossos irmãos no peito e na raça, tentando enquadrá-los dentro daquilo que gostamos e que aceitamos.

Caminhos para crescer no amor
1.Atenção ao outro (como Maria): a Deus e aos homens.

2. Comunicação profunda com o outro: capacidade de expressar através da linguagem todo seu dom e também capacidade de escutar em profundidade.

O QUE SIGNIFICA ESCUTAR EM PROFUNDIDADE:

Entrar no mundo da interioridade do outro com o coração disposto a acolher, não julgar, serenidade e calma, paciência, interesse pelo outro e pela vida que leva, por seus sentimentos. A comunicação não exige muito falar. Comunicar não significa perder a autonomia e a liberdade de pensamento.

3. Respeito pela autonomia do outro:
O amor profundo não manipula as pessoas, como se manipula objetos, porque só existe verdadeiro crescimento a partir de dentro. O respeito pela autonomia do outro é amor porque onde existe respeito tem-se uma presença discreta, que não impõe, que não ergue barreiras e obstáculos; a fé constante na capacidades de auto-desenvolvimento das forças vitais que orientam o outro para aquilo que lhe faz bem.
A maioria das pessoas tem o secreto e inconsciente receio de que a autonomia do outro crie problemas, traga obrigações e por isso tende a oferecer inúmeros conselhos, a ficar projetando soluções.
Amar é pôr-se diante do outro numa atitude de grande respeito por suas opções e tomadas de decisão, suas demoras, seus ritmos de crescimento, para que sua autonomia amadureça sempre mais e a relação vá progredindo em direção à profundidade.

4. Expressão de amor profundo:
O amor tem que traduzir-se em atos que exprimam aquilo que se vive, traduzir-se em gesto que gerem outro amor. Não basta dizer a uma pessoa que você a ama. É necessário também que ela o perceba através dos atos, faça o que for necessário para que, de sua parte, floresça a confiança, a familiaridade, a intimidade.
Que expressão escolher? Como manifestar o amor profundo?
dar o melhor de si mesmo ao outro. Todas as suas expressões sensíveis e visíveis deveriam seguir essa trajetória (a sensibilidade, os impulsos, a própria sexualidade).
Exemplos: uma saudação, uma carta, um encontro, o tratar-se com familiaridade e intimidade, um aperto de mãos, um beijo, um gesto de carinho, uma ajuda esperada, a lembrança de uma data particular, uma palavra de estima, de conforto e de estímulo.
Dar alguma coisa ou dar-se a si mesmo a uma pessoa implica uma renúncia que empobrece, mas esta renúncia produz alegria, pois o ato de dar produz mais alegria do que o de receber, não pela privação ou pela renúncia em si, mas pelo dom que exprime a própria vitalidade oblativa, a própria fecundidade.
Este movimento de dar provoca o crescimento do outro que recebe e de quem dar. Nem sempre no dom há alegria, e tanto mais falta alegria quanto mais estiver presente a procura de si mesmo. Mas sempre há alegria quando a pessoa se preocupa ativamente com a vida e o bem daquele que se ama e ao qual se dá alguma coisa. O amor se torna assim não um gesto sentimental, mas um ato originado pela "vida profunda", que intui no outro uma necessidade, confessada ou não, e lhe dá socorro, prevenindo-a.

5. O amor leva ao conhecimento da pessoa (ver além das aparências):
Sem conhecimento não existe amor. O conhecimento da pessoa que se quer amar não se detém na periferia, mas chega ao fundo de sua vida e de seu ser. Amar é conhecer o núcleo desta vida e deste ser escondido nela. Toda pessoa é muito mais do que aquilo que aparenta aos olhos dos outros.

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