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Músicas Católicas ou Protestantes?

Por Rafael de Angeli - *coordenador da banda Canal da Graça


  Esta semana li várias coisas pela internet que me deixaram muito intrigado… Ainda ė a mesma discussão: música evangélica. Estou me segurando há meses, se bobear, anos, para escrever mais sobre este assunto! E parece que o povo ainda está vivendo no século passado.
Por incrível que pareça, ainda se encontram barreiras para colocar uma música evangélica em uma missa, em um grupo de oração ou até mesmo em um encontro religioso ditamente católico. Já disse isso em artigos anteriores, mas sempre é válido lembrar: creio que o problema maior é a “plaquinha” que levantamos. Muitas vezes nos preocupamos em levantar a bandeira da nossa igreja, do movimento que participamos, do nosso grupo de oração ou do grupo de jovens e esquecemos que quem necessariamente precisa ser exaltado é Jesus Cristo. Nossas bandeiras, nossas placas, nossos cartazes e outdoors precisam ser um só! Se somos CRISTÃOS, a meta é direcionar ao CRISTO. Cristo… Cristão… Cristianismo…
  Antes de qualquer julgamento, precisamos buscar conhecer a história e a essência de cada religião, pois podemos acabar tendo as mesmas atitudes dos judeus para com os samaritanos. Jesus morreu lutando para que todos tivessem VIDA, e vida em abundância. TODOS, sem exclusão.
Na época de Jesus, a exclusão era grande com os considerados impuros e pobres. O templo não dava acesso a todas as pessoas por motivos diversos e muitas vezes tolos. Foi o que mais Jesus criticou, lutando por dignidade, justiça e igualdade para os povos.
Geralmente, como enxergamos os protestantes, os evangélicos e a música gospel? Como se fossem uma segunda classe, como se nós fôssemos melhores pelo simples fato de sermos católicos. Você percebe isso?
  Muitas músicas que você e eu cantamos em nossas celebrações e eventos são evangélicas: Segura na mão de Deus, Porque Ele vive, Quão grande és Tu, A alegria, Basta querer, Anjos de Deus, Fico feliz, Sou um milagre, Eu navegarei, Assim como a Corça, Levanta-Te, Oferta de Amor, Celebrai, entre outras (são centenas, acredite!). E porque teimamos em ter preconceitos em cantar músicas evangélicas novas, ouvir um CD, ver um DVD ou até mesmo ir a um show gospel?
O uso de composições evangélicas na Igreja Católica e em todos os seus movimentos, principalmente a RCC, não é apenas um fenômeno dos nossos dias, é uma prática que faz parte da história da Igreja e dos movimentos. E não há nada de errado com isso, desde que tenhamos sempre o discernimento de filtrar, de acordo com nossa Doutrina Católica, o que escolhemos para cantar.
Tem gente que fala baboseira e tem atitudes erradas dentro da igreja evangélica? Claro! E na igreja católica, não? Nem precisamos ir muito longe… Pense por si próprio!
Existem evangélicos bitolados que acham que só a igreja deles presta e só ela nos leva para o céu… E na católica, é difícil encontrarmos isso?
  Tenho muitos amigos evangélicos. A maioria deles, quando convido, vão até conhecer nossos grupos de oração e participar de uma santa missa. Cantam e ouvem nossas músicas. E eu tento convertê-los? Não. Tenho profundo respeito por eles e eles por mim. Por isso me aceitam também como sou, sem tentar me levar para a doutrina deles. Nosso foco é um só: o filho de Deus. Isso nos une, nos faz verdadeiros irmãos e nos basta!
Com minha banda, o Canal da Graça, fazemos alguns eventos ecumênicos. Até hoje nunca tivemos problemas. Pelo contrário, só nos enriquecem na fé.
Nosso mais novo CD (Tocando o Céu) tem 8 músicas arranjadas pelo Adelso Freire (Banda Giom), grande músico evangélico, cantor e compositor, que produz muitos trabalhos católicos (e também da religião dele, é lógico). E nem por isso nosso CD deixou de ter a nossa cara, a face de Cristo da nossa missão, porque quisemos, desde o início, não perder nossa identidade. E nunca perdemos este foco, mesmo trabalhando com o Adelso!
  Conheço comunidades católicas famosas, conceituadas e reconhecidas pelo Vaticano, que convidam músicos evangélicos para a produção de seus CDs e DVDs. Conheço outras que também fazem aula de técnica vocal e instrumental com músicos protestantes. Aliás, é uma porcentagem muito maior do que você imagina.
  E nossas canções? A maioria dos CDs católicos atuais (Anjos de Resgate, Adriana, Padre Fábio de Melo, Padre Marcelo Rossi, Eliana Ribeiro, Louvor & Glória, Celina Borges, Dalvimar Gallo, entre centenas de outros) trazem composições evangélicas, de amigos e irmãos que colocam seus dons a serviço da evangelização. E agora que você sabe, isso mudou sua oração e intimidade com Deus através das canções destes ministérios? Tenho certeza que não.
  Como nos ensina a palavra de Deus, a salvação é pessoal (e intransferível). Se eu, como católico, e meu irmão, como protestante, não a buscarmos, ambos não herdaremos a vida eterna. É simples e radical mesmo. Depende só de mim e não da bandeira que carrego.
  Quem falou que o Padre Fábio de Melo tem mais intimidade com Deus que o André Valadão (grande ícone atual da música gospel brasileira)? Ou que a Celina Borges ou a Adriana têm mais unção que a Fernanda Brum? Eu não posso julgar. Quem sou eu para isso? A primeira pedra jogada acertaria em cheio a minha cabeça! Precisamos nos abastecer do que ambos têm para profetizar e nos ajudar na busca constante de ir além de onde estamos.
  O cristianismo não pode ser fundado em competições, divisões e brigas. O Diabo existe para nos dividir e nos conscientizar do contrário. A palavra “diabo” é originada do grego “diabolon”, que significa divisão, oposição.
  O Senhor não me transforma em “menos católico” por ouvir música gospel. Muito menos em tocá-la. Há muito católico quem nem conhece sua própria doutrina!
Quando tive a oportunidade de ir à Terra Santa e conhecer de perto a religiosidade e cultura deste povo, percebi que, pelo número de cristãos ser extremamente pequeno, pouco mais de 8% da população, eles não ficam lutando pra ver quem é mais católico ou evangélico. Pelo contrário, há uma união pela luta, para que o cristianismo não seja exterminado. Isso, sim, é lindo de se ver e viver! Às vezes sinto falta da perseguição que já existiu na história da Igreja. Ela nos fortalece e nos faz crescer na fé…
  Há uma frase de Mahatma Gandhi, um dos homens que fez a diferença neste planeta, que expressa bem o que quero exemplificar: “Quando conheci o evangelho de Jesus Cristo, me apaixonei por sua vida e ideais. Quando conheci seus seguidores, os cristãos, me decepcionei”.
Será que não está na hora de fazermos a nossa diferença e provarmos para o mundo nossa verdadeira raiz?
  Eu me espelho em cristãos verdadeiros, sendo eles católicos ou protestantes. Quer maior exemplo que Bill Gates, evangélico, que segundo a imprensa americana, entrega metade dos lucros da Microsoft para ajudar os pobres, os famintos e necessitados do mundo?
  “Eu acho que todos os bilionários deveriam doar a maior parte de suas fortunas – embora não diga que não devam deixar nada a seus filhos. Acho que eles gostariam disso, os filhos deles ficariam melhores e o mundo ficaria melhor. Sou um grande adepto da ideia de que as grandes fortunas devem ir dos mais ricos aos mais pobres”, afirmou Gates numa reunião na casa de ópera de Oslo, em 2009.
Pelos dados da ONU, mais de 1 milhão de pessoas morrem de fome POR DIA no mundo. A começar por mim, o que fazemos pela parte social do nosso planeta? Preocupamo-nos com coisas tão pequenas e esquecemos o que deveria ser o mais essencial!
  Voltando ao assunto da música… Em 2004, enquanto  era coordenador nacional do Ministério de Música e Artes da RCC, João Valter Ferreira Filho escreveu um artigo com o título “E as canções feitas por irmãos de outras igrejas?”, onde abordou tudo o que diz respeito a este tema de uma forma extremamente lúdica e inteligente. Todos, sem exceção, deveriam ler e estudar este rico texto com seu ministério. Ele finalizou com o seguinte parágrafo, que transcrevo a seguir: “Claro que nada impede que alguém simplesmente diga ‘não toco música evangélica e pronto’. Em princípio, até Deus respeita sua liberdade, por que alguém mais poderia não respeitá-la? Entretanto, é bom que todos nós saibamos que essa escolha não quer dizer que você está ‘defendendo sua fé’ ou ‘sendo mais autêntico’ que os outros… É uma opção sua, importante enquanto expressão de seu pensamento, porém nada mais que uma opção.   Pensar o contrário seria querer afirmar, inclusive, que o próprio Magistério da Igreja também não está ‘tendo coragem de defender a fé’, um absurdo, portanto” (leia o artigo citado AQUI).
  Agradeço à minha amiga Lucimare Nascimento e a todos os amigos de São Paulo (SP), que discutiram, no amor, sobre este assunto. Amiga, seu e-mail foi uma referência para este artigo, que eu já estava para escrever há tempos. Deus abençoe sua missão e sua vida!
  Quando comecei a escrever, estava em meu coração falar somente da música, mas o Espírito me conduziu também para o lado da história das religiões. Creio no que Deus quis falar através disso tudo.
Vou continuar admirando e orando pela boa música, seja ela religiosa ou secular, por que sempre se pode analisar tudo e tirar aquilo que é bom de cada uma delas!
  Minha oração de hoje é para que o Senhor abra nossos corações para enxergarmos verdadeiramente o sobrenatural.
  Santa Cecília, rogai por nós!

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