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Adélia Prado

Mater Dolorosa


(...) Uma vez fizemos piqueninque,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com doçura.
Se for só isso o céu,
está perfeito.



(Oráculos, p. 47)




A BELA ADORMECIDA

Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação,
porque aos 50 anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão,
aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço
a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
tenho 18 anos. Incompletos.

Biografia
Adélia Luzia Prado de Freitas (13/12/1935)
Poeta, romancista e contista, nasce em Divinópolis, Minas Gerais, filha do ferroviário João do Prado Filho e da dona-de-casa Ana Clotilde Corrêa. Aos 15 anos, abalada pela morte da mãe, começa a escrever e em 1969 publica, em parceria com o escritor Lázaro Barreto (1934), A Lapinha de Jesus. Quatro anos depois, envia alguns de seus poemas ao poeta Affonso Romano de Sant'Anna (1937), que os submete à apreciação do escritor Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987). Entusiasmado, Drummond sugere a publicação do que viria ser o livro de estréia de Adélia Prado, Bagagem, em 1976. Ela lança seu primeiro livro de prosa, a coletânea de contos Solte os Cachorros, em 1979, e, no ano seguinte, o primeiro romance, Cacos para um Vitral. Em 2006, publica Quando Eu Era Pequena, primeiro trabalho dedicado ao público infanto-juvenil. Sua obra, que contém fortes elementos do catolicismo, remete à paisagem e ao cotidiano de Minas Gerais, com uma abordagem inovadora da sexualidade feminina. A poeta vive em sua cidade natal, envolvida com questões ligadas à educação e cultura públicas.

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