Um dia vi um navio de perto. Por muito tempo olhei-o com a mesma gula sem pressa com que olho Jonathan: primeiro as unhas, os dedos, seus nós. Eu amava o navio. Oh! eu dizia. Ah, que coisa é um navio! Ele balançava de leve como os sedutores meneiam. À volta de mim busquei pessoas: olha, olha o navio e dispus-me a falar do que não sabia para que enfim tocasse no onde o que não tem pés caminha sobre a massa das águas. Uma noite dessas, antes de me deitar vi - como vi o navio - um sentimento. Travada de interjeições, mutismos, vocativos supremos balbuciei: Ó Tu! e Ó Vós! - a garganta doendo por chorar. Me ocorreu que na escuridão da noite eu estava poetizada, um desejo supremo me queria Ó Misericórdia, eu disse e pus minha boca no jorro daquele peito. Ó amor, e me deixei afagar, a visão esmaecendo-se, lúcida, ilógica, verdadeira como um navio. (Poesia Reunida, p.359)
“A pior prisão é um coração fechado.” (Beato João Paulo II).